Orifício Culposo

24 de dezembro de 2013

O chá que ela não tomou



Queria sumir por uns dias 
Sumir por uns meses
Por uns anos 
Décadas.

Por tudo
Por nada 
Por não ter tido 
Por tanto querer 
Por nada querer 
Nada ter.

Não sei bem como começou essa onda que me joga para todos os cantos, menos o meu. 
Não sei quando invadiram o meu cantinho. O meu lar. 
Às vezes, eu insisto em suspirar, bocejar, desejar aquilo que é tão pouco compreendido. 
Queria só ficar ali. Só. Ah. Nada mais.
Vivo vivendo vidas que não me cabem. Subjetivando o que não quero. Ansiando pelo que não vem.
São tantas angústias desgastadas. Tantas lágrimas não expostas. Tantas coisas que calei por apenas calar.  

Lá fora, agora, os fogos anunciam o que não sou. O que nunca quis. O que nunca fui.

O meu som nunca bate com o do mundo,
e o meu chá de sumiço nunca vem.

22 de dezembro de 2013

Que o Natal seja doce

“Estou participando do concurso cultural “Natalizando o meu livro favorito” e quero meu presente de Natal em livros da Saraiva".

Minha frase:

Era noite de Natal. E quando os sinos tocam, algo dentro de mim também toca anunciando dias melhores. Ainda há quem ignore o fato n'O Morro dos Ventos Uivantes, mas aqui embaixo, bem onde o sol sempre vem e as luzes natalinas reluzem, os corações batem somente um som. Apenas um grito de esperança. Um sussurro que o morro há de ouvir.

12 de setembro de 2011

Um limão que adoce.


Incrível como coisas tão bobas têm o poder de nos magoar. Como somos vulneráveis. Claro, nem todos são assim, mas infelizmente eu faço parte da Turma dos Bobocas Sentimentais. Admiro essas pessoas que não se deixam abater.

Perdoem a minha expressão, só que eu me sinto assim e sei que muitos de vocês também.
É tão fácil eu me sentir machucada. E é tão fácil eu magoar alguém também. Complicado.
Eu teria vários exemplos tolos para contar em que me senti extremamente triste, porém, me lembro apenas de um recente.

Um dia desses o meu colega do trabalho comprou um rocambole de limão. Ok, o que há de errado nisso? É o melhor rocambole que eu já comi na minha vida. Aliás, preciso aprender a fazê-lo e rir da cara desse meu colega. Paguem para ver.
Há um outro fato também, esse meu colega já foi muito amigo meu e eu o rotulava assim ainda há uns dois meses atrás. Cansei. Cansei de ser idiota, de me dedicar demais a quem não merece.
Não entendi o motivo do seu afastamento e sabem de uma coisa, eu não quero entender. Não vou impor a minha presença. Detesto ser chata.
E esse último episódio foi a prova disso. O meu ex-amigo comprou o rocambole mais bonito da cidade (não resisti, rs) e não me ofereceu. Ofereceu para a minha outra colega de trabalho, apenas.
E sabe o que é mais desolador nisso tudo? Ele já falou mal dela para mim inúmeras vezes. Gente, eu sou um ET ou o que?
As pessoas desconhecem os valores, desfazem laços e tudo por causa de nada.
Todo esse materialismo me cansa. Perdi as esperanças. O que me dá um certo alento, é saber que existem pessoas dignas de confiança e cheias de bons sentimentos. Ainda nesse mundo. Acreditem.
Essas boas causas em prol de pessoas menos favorecidas, também fazem carinho em meu coração. Nem tudo está perdido, afinal.

No final das contas eu nem sou tão boboca assim. Não tenho culpa se guardo um coração molhado aqui dentro.
De qualquer forma essas mínimas coisas me deixam triste, muito triste. Eu queria não sentir nada disso.

Eu ia dizer que corro o sério risco dele ver esse texto e identificá-lo. E querem saber de uma coisa? Que veja. Que veja e que seja útil.

O que um simples rocambole não faz com a gente, hein?

Muitos barulhos aqui dentro



Assim como Caio Fernando Abreu, ando meio fatigada de certas coisas. De saco cheio mesmo, popularmente falando.
É tão cansativo viver em um mundo tão complicado. As pessoas que o complicam, aliás. Contestam tudo. Reclamam de tudo. Fazem carnaval com tudo.
Quão bom seria se as coisas andassem um pouco mais devagar. Se as pessoas ouvissem mais as outras. Se permitissem um debate saudável.
Eu não sei se com vocês é assim, contudo, sempre que eu participo de uma conversa, ela começa mansa e ao fim as pessoas estão quase se matando.
Isso me faz querer ficar calada mais do que eu deveria. Paciência nunca foi uma virtude minha mesmo.
A ideia de gastar saliva à toa tem me feito pensar horas e horas.
Também tenho um complexo de achar que sempre incomodo as pessoas. O silêncio tem sido o melhor caminho.
A verdade é que as pessoas não querem ouvir. Só vivem para escutar o seu ego que grita como um louco desesperado.
Não tenho a intenção de chamar qualquer atenção para mim, muito pelo contrário, quanto mais quieta e sem ninguém me enchendo o saco, melhor. É que isso é algo que realmente me incomoda. Gosto muito de conversar, isso é verdade, entretanto, é apenas para bater um papo amigável e que daí saia alguma coisa que preste. Ao invés disso, quando dou por mim, estou em meio a uma guerra de Tróia. Não é surpresa eu me sentir tão cansada, afinal.
Algumas vezes eu começo a pensar que posso ficar maluca com tantas vozes falando ao mesmo tempo. Ou será que já estou? Será que já estou acostumada? Não quero me acostumar.

Eu reparo no silêncio e dou o devido valor quando eu fico em silêncio. As pessoas deveriam experimentar isso com uma frequência maior. Não há outro modo de entrar em sintonia com ele, só silenciando mesmo.

A questão toda não é apenas o silêncio, mas o ego que todos têm e que salta do peito feito peão na arena.
Precisamos aprender a ouvir mais e a calar mais.
Não é por acaso que temos dois ouvidos e uma boca.
Gosto muito dessa frase:
“Quem fala menos, ouve melhor e quem ouve melhor, aprende mais.”
Isso resume bem o que quero passar.

Inclusive os sábios foram conhecidos por estudarem exaustivamente, quase não tinham tempo para sequer abrir a boca.
Eu gosto dessa ideia. Preciso exercer a arte de ser menos falante. Muito disso é culpa minha também. Se eu não falasse tanto, as pessoas saberiam que eu sou calada e consequentemente não teriam tanto o que debater comigo. Não que eu queira ficar muda, não é isso, mas tudo em excesso é suicídio.

O texto abaixo é sobre o silêncio interno. Muito bem feito e de muita serventia.

Agora, se me derem licença, vou silenciar um pouco.



A SABEDORIA DO SILÊNCIO INTERNO


Fale apenas quando for necessário.
Pense no que vai dizer antes de abrir a boca.
Seja breve e preciso já que cada vez que deixas sair uma palavra,
deixas sair ao mesmo tempo uma parte de seu Chi (energia).
Desta maneira, aprenderás a desenvolver a arte de falar sem perder energia.

Nunca faças promessas que não possas cumprir.
Não te queixes, nem utilizes em seu vocabulário,
palavras que projetem imagens negativas
porque se produzirão ao redor de ti,
tudo o que tenhas fabricado com tuas palavras carregadas de Chi.

Se não tens nada de bom, verdadeiro e útil a dizer,
é melhor se calar e não dizer nada.

Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia.
O próprio Universo é o melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu,
Porque o universo aceita, sem condições, nossos pensamentos, nossas emoções,
nossas palavras, nossas ações, e nos envia o reflexo de nossa própria energia
através das diferentes circunstâncias que se apresentam em nossas vidas.

Se te identificas com o êxito, terás êxito.
Se te identificas com o fracasso, terás fracasso.

Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simplesmente
manifestações externas do conteúdo de nossa conversa interna.

Aprende a ser como o universo, escutando e refletindo a energia
sem emoções densas e sem prejuízos.

Porque sendo como um espelho sem emoções aprendemos a falar de outra maneira.
Com o poder mental tranqüilo e em silêncio, sem lhe dar oportunidade de se impor
com suas opiniões pessoais e evitando que tenha reações emocionais excessivas,
simplesmente permite uma comunicação sincera e fluida.

Não te dês muita importância, e sejas humilde, pois quanto mais te mostras superior,
inteligente e prepotente, mais te tornas prisioneiro de tua própria imagem
e vives em um mundo de tensão e ilusões.

Sê discreto, preserva tua vida íntima, desta forma te libertas da opinião dos outros
e terás uma vida tranquila e benevolente invisível, misteriosa, indefinível,
insondável como o TAO.

Não entres em competição com os demais, torna-te como a terra que nos nutre,
que nos dá o necessário.

Ajuda ao próximo a perceber suas qualidades, a perceber suas virtudes, a brilhar.
O espírito competitivo faz com que o ego cresça e, inevitavelmente, crie conflitos.

Tem confiança em ti mesmo, preserva tua paz interior evitando entrar na provação
e nas trapaças dos outros.
 
Não te comprometas facilmente, se agires de maneira precipitada sem ter consciência
profunda da situação, vais criar complicações.

As pessoas não tem confiança naqueles que muito facilmente dizem “sim”
porque sabem que esse famoso “sim”não é sólido e lhe falta valor.

Toma um momento de silêncio interno para considerar tudo que se apresenta a ti
e só então tome uma decisão.
Assim desenvolverás a confiança em ti mesmo e a Sabedoria.

Se realmente há algo que não sabes, ou não tenhas a resposta a uma pergunta
que tenham feito, aceite o fato.
O fato de não saber é muito incômodo para o ego porque ele gosta de saber tudo,
sempre ter razão e sempre dar sua opinião muito pessoal.
Na realidade, o ego nada sabe simplesmente faz acreditar que sabe.
 
Evite julgar ou criticar, o TAO é imparcial em seus juízos e não critica a ninguém,
tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade.
Cada vez que julgas alguém a única coisa que fazes é expressar tua opinião pessoal,
e isso é uma perda de energia, é puro ruído.

Julgar, é uma maneira de esconder tuas próprias fraquezas.
O Sábio a tudo tolera, sem dizer uma palavra.

Recorda que tudo que te incomoda nos outros
é uma projeção de tudo que não venceu em ti mesmo.

Deixa que cada um resolva seus problemas e concentra tua energia em tua própria vida.
Ocupa-te de ti mesmo, não te defendas.
Quando tentas defender-te na realidade estás dando demasiada importância às
palavras dos outros, dando mais força à agressão deles.

Se aceitas não defender-te estarás mostrando que as opiniões dos demais não te afetam,
que são simplesmente opiniões, e que não necessitas convencer aos outros para ser feliz.

Teu silêncio interno o torna impassível.
Faz uso regular do silêncio para educar teu ego que tem o mau costume de falar o tempo todo.

Pratique a arte do não falar.
Toma um dia da semana para abster-se de falar.
Ou pelo menos algumas horas no dia, segundo permita tua organização pessoal.

Este é um exercício excelente para conhecer e aprender o universo do TAO ilimitado,
ao invés de tentar explicar com palavras o que é o TAO.
Progressivamente, desenvolverás a arte de falar sem falar, e tua verdadeira natureza
interna substituirá tua personalidade artificial, deixando aparecer a luz de teu coração
e o poder da sabedoria do silêncio.

Graças a essa força, atrairás para ti tudo que necessitas para tua própria realização
e completa liberação.

Porem tens que ter cuidado para que o ego não se infiltre…
O Poder permanece quando o ego se mantém tranquilo e em silêncio.
Se teu ego se impõe e abusa desse Poder o mesmo Poder se converterá
em um veneno, e todo teu ser se envenenará rapidamente.

Fica em silêncio, cultiva teu próprio poder interno.
Respeita a vida dos demais e de tudo que existe no mundo.

Não force, manipule ou controle o próximo.

Converta-te em teu próprio Mestre e deixa os demais serem o que são,

ou o que têm a capacidade de ser.

Dizendo em outras palavras, viva seguindo a vida sagrada do TAO.





Texto Taoísta (desconheço o autor)

22 de agosto de 2011

A notícia que desanimou o mundo.




Extra! Extra! O planeta Terra adverte: as pessoas do século XXI precisam de uma injeção de ânimo.

Penso nisso quando ouço as histórias da infância da minha avó. Os pés cansados descalços na roça, a comida no fogão à lenha que ela ajudava a minha bisavó a preparar. Ouvia sermões do meu bisavô e ia toda feliz para a escola. Fico encantada quando ela conta que escrevia com pena e tinteiro. Não tão bonita como aquelas mais de antigamente, mas ainda assim me fascina.
Vida de gente que mora na roça não é fácil não, e com certeza essas pessoas são mais animadas que muita galera nova por aí.
Não, não, você não precisa se acabar na balada para provar o seu ânimo aos outros ou a si mesmo, e nem sair pulando feito um anfíbio descontrolado. Eu falo do ânimo para a vida, dos olhares abertos para o que a natureza tem de bom, dos sabores naturais e do gostinho da chuva.

Pais, os computadores estão queimando os miolos dos seus filhos, acabando com as suas infâncias e exaltando os humores.

Crianças, rolem na grama, andem descalços, dancem a dança da cadeira, brinquem.

E eu não fiz esse texto apenas para o universo entre pais e filhos, isso serve para todos, inclusive essa que vos fala.

É tão mais fácil reclamar, não é? O comodismo é uma coisa que muito nos agrada. “Tenho que arrumar as roupas que estão no armário”. “Ah, deixa para outro dia, afinal elas já estão assim há tanto tempo.“
Vivemos no mundo das desculpas, das ilusões, da entrega total ao vazio.

Essa mania que o ser humano tem de complicar as coisas e ir empurrando com a barriga. Vou ser bem clichê ao falar isso, mas temos que viver conforme a expressão “carpe diem”. Para o bem da nossa existência e dos que porventura vierem.
Alguns dias atrás, eu assisti o incrível clássico “Sociedade dos Poetas Mortos” e o filme retrata muito bem isso. Aliás, fica a dica para quem se interessar.
Viver é o verbo que não podemos deixar de lado, muito mais que amar. Pois como amar sem vida? Como amar sem luta?

Essa massa de tecnologia engoliu o mundo e nós fechamos os olhos para esse fato. Pode não parecer, entretanto, a simplicidade faz um bem danado à alma. Pense aí com os seus botões: qual a sensação que você tem quando brinca no balanço? Qual o sentimento que te envolve quando você deita no colo da sua mãe e ela te faz cafuné? Qual a recompensa que você tem quando passeia no parque aos domingos e faz um piquenique? E o que você sente quando consegue ajudar alguém?
A resposta sempre será a mesma: felicidade.
Claro que ganhar aquele relógio que você tanto queria, ou a coleção de livros que você tanto esperou, também te dá prazer, contudo, a felicidade mora nas pequenas coisas. Pequeninos tesouros.
Está para nascer um sentimento maior de felicidade do que quando nos sentimos úteis. Não somos tão egoístas assim, pois sabemos ajudar, sim. Até o comodismo tomar conta. Maldita falta de energia e força de vontade.

O sentimento em prol do bem está ali, mas seguimos feitos marionetes da sociedade.
Se tivéssemos ânimo o suficiente, todos juntos, o mundo não estaria o caos que está. Aí você me pergunta: “o que isso tem a ver com o mundo?”
Tudo, meu amigo. Cadê o ânimo para cobrar dos políticos as promessas feitas em vão? Cadê o ânimo para estudar e consequentemente ser uma pessoa inteligente e dedicada? Cadê o ânimo para parar de fumar e se drogar? Cadê o ânimo para comer melhor e ser mais saudável? Cadê o ânimo no mundo?
Estamos paralisados, senhores. Perdemos o controle das rédeas. Se é que a tivemos um dia, um pouco que seja.

Há exceções, com certeza. Já vi muitos idosos bem dispostos e com um sorriso lindo na face. Isso significa algo, né?

Caso você conclua que não é uma pessoa desanimada, pois muito bem, continue assim. E se você for desanimado, comece levantando da cadeira e busque o sol que espera por você para tomar um sorvete. Vamos?

Espero que você tenha entendido o real significado que eu quis imprimir no verbo desanimar.

Nota: quando eu terminei esse texto, ainda não tinha visto o filme Fight Club (Clube da Luta, em português). E como ele se encaixa muito bem na mensagem que eu quis passar nesse texto, resolvi criar essa pequena nota. Assistam. E não analisem apenas o lado das lutas em si, há muitas mensagens que se você souber ser perceptivo, irá captar.


21 de agosto de 2011

Sick Birds



Se as decepções, mágoas e dissabores saíssem nos jornais, não haveria tantos fornecedores para contar as histórias.


Quando eu penso que já fizeram-me de tudo, lá vem mais uma lambada e um tabefe bem dado. Como nos surpreendemos com as pessoas. Como elas fazem questão de deixar isso bem claro.
São poucas as pessoas que podem contar com os amigos e ainda assim nos dedos.
O mundo virou uma grande competição e todos querem estar no pódio, independentemente de como consigam isso. Fico assustada com os valores perdidos, amores deixados para trás e déficit de carinho.
E não pense você que isso acontece apenas fora de casa, muitas vezes é dentro dela.
Desde que eu me entendo por gente, dar um beijo de “boa noite” nos pais é um gesto carinhoso. Sempre pensei que posso amanhecer e as minhas preciosidades (mamãe e vovó) não estarem mais vivas. O que eu percebo frequentemente é que todos estão cagando e andando para os pais, amigos e fraternos. Que se dane o mundo! É o que muitos pensam e dizem.

Outra coisa que eu tenho reparado é o quanto as coisas boas são esquecidas. Em um simples momento de desafeto, as pessoas se esquecem do que viveram com as outras. Se isso acontece em uma amizade, todas as lembranças e dias compartilhados vão para o espaço. Se acontece em um casamento, é cada um para o seu lado. Fácil, fácil.
Como os seres humanos adoram uma briga. Entram nela e depois não sabem como sair. Há quem defina isso como estratégia e inteligência. Eu fico com burrice e impaciência.

Triste pensar que todos se acomodaram com a alegria e boas risadas, não que isso não seja bom, mas a vida é feita de altos e baixos. Pare para pensar e reflita.

Por outro lado, algumas pessoas se tornam duras após tantas decepções e mágoas. Viram verdadeiras pedras de gelo ambulantes. O cérebro deixou de confiar e o coração acatou a informação.

Você não nasceu sabendo andar, falar, ler etc. E nem por isso deixou de seguir em frente. Há uma mágica nas crianças que me fascina. Elas têm o dom do esquecimento e do “bola para a frente”, incrivelmente admiráveis. Já diziam os filósofos o quanto as crianças são sábias e especiais.

Esse mundo tecnológico está cada vez mais entrando nas cabeças humanas. Pessoas sem sensações, sem sentimentos, sem escrúpulos.

Falta pisar na grama, na areia. Falta fazer bolhas de sabão, encardir os pés na rua. Falta chineladas na bunda, tapas de leve na boca. Falta andar mais a pé, de bicicleta. Falta bexigão em festas de aniversário, falta chapeuzinho de papelão e todos rindo de você.

Falta respeito. Falta cumplicidade. Falta união.
Falta uma boa chacoalhada. Falta sinceridade. Falta vergonha na cara.

Há uma grande ferida nesse nosso globo terrestre e os remédios (únicos) somos nós.

              Deixemos o orgulho de lado e façamos os corações baterem em um único som.            



O tal do camarada amor




 “Eu amo você.”
“Eu não vivo sem você.”
“Você é a minha vida.”

(Pausa para um café com biscoitos)

“Eu seria capaz de morrer por você.”
“Eu morro por você.”
“Seremos felizes para sempre.”

Tudo muito lindo, tudo muito bom, mas cá entre nós: não há sentimento mais banalizado que o amor, hoje em dia.
As pessoas conhecem-se num dia e no outro já dizem “eu te amo”. Tornam-se confidentes e a pessoa é colocada num pedestal facilmente. Não há mais aquela busca, aquele esforço. Tudo se tornou fácil e rápido. Chato e morno, falso e cansativo.
Bem sabemos que dizer “eu te amo”, é algo muito forte para ser dito aos quatro ventos como se não fosse nada. Sentir é mais bonito do que falar. A-g-i-r.
As pessoas conseguem sim, viver sem os seus amores, só os suicidas que não. Quem se entrega à morte pela perda de alguém, jamais amou a si mesmo. Isso é um delito enorme. Tudo bem que cada um sabe o que faz e deve ter lá os seus motivos, mas não deixa de ser um ato insano e inconsequente. E os meus queridos ouvidos ainda têm que ouvir vez ou outra, que morte por amor é lindo demais e blábláblá. Ok.
Não estou aqui para julgar ninguém, quem me dera, entretanto, não gosto de ver o amor ser tratado assim tão feiamente.
Sou nova, mas sou da época em que olhares eram mais importantes. Afetos, abraços, beijos. Isso se perdeu quando inventaram o tal do SMS.
Calma, eu gosto da tecnologia e sou a favor dela, indiscutivelmente, porém, uma carta deixada de surpresa embaixo da porta é tão valiosa como aquela mensagem que você mandou através do seu celular.
Repito: você vive sem o seu amor, você aprende com a dor.
O seu namorado, marido, ficante, amigo colorido ou flashback não são a sua vida. Entenda isso de uma vez por todas. A sua vida é tudo que a compõe. Os seus livros, as suas séries, as suas idas ao parque, as suas músicas preferidas, a sua família, os seus vizinhos, as suas compras no supermercado, os seus gastos no shopping, as suas danças na balada, o seu suor no trabalho, os seus pensamentos no quarto, os seus banhos, as suas refeições, os encontros com os amigos, as suas rotinas e o seu amor, óbvio. O que quero deixar claro aqui é o seguinte: o seu amor sozinho, nunca será a sua vida. Vocês precisarão de outros complementos para o barco não afundar.

Vamos, sente aqui, venha tomar um café comigo, não gosto da bebida, mas acompanho você. Falemos um pouco desse sentimento. O que é o amor? Há quem diga que amar é sentir borboletas no estômago e palpitações no peito. Só? Não, não, não.
Amor é mais, amor é sublime. É entregar-se de corpo e alma há qualquer ser humano que necessite de compreensão. É renúncia, é abnegação. Isso sim é amor.
Se você diz amar apenas o seu prazer carnal, você não conhece o amor, sinto dizer-lhe. E a mãe que passou talco no seu bumbum? E o pai que por tantas vezes levou-te às festas da cidade? E o irmão que mesmo bravo, cedeu-te o computador e aquele gibi tão amado? E a empregada da casa que sempre fez aquele bolo que você tanto gosta? Cadê esse pessoal na sua história? Acho que você nunca saberá, caso não tenha o esforço suficiente. Mas que baboseira essa, precisar de esforço para reconhecer um amor. Porque mais que amar, reconhecer os amores que estão ao seu lado é mais precioso.
Andei reparando que a palavra “ódio” entrou de vez para o vocabulário das pessoas. “Eu odeio o meu irmão”, “Eu odeio a vizinha de cima”, “Eu odeio aquele cachorro que não pára de latir”. Ódio, ódio, ódio. Quanto ódio!
O cachorro não tem mais o direito de latir. É o fim.
Tenho dó do amor, sinceramente. Foi esquecido feito um cão vira-lata qualquer. Superestimam o ódio como se fosse uma coisa bonita, agradável e prazerosa. Pobres seres humanos.

Voltemos ao ponto principal da nossa conversa, meu caro.

Você tem certeza de que morre por alguém? Pense bastante, deixe os miolos queimarem.
No máximo você morreria pelos seus pais e olhe lá. Não estou subestimando ninguém, não é isso, todavia, morrer por qualquer pessoa que seja não é tão simples quanto parece. Nós somos apegados demais à matéria e quem comete tal ato é fraco. Não vejo força em quem comete suicídio, por mais que pareça.  As pessoas que se entregam para a morte, desistiram de lutar, veja bem.
Conforme aprendemos desde pequenos, o único ser humano que morreu em prol do bem, foi Jesus Cristo e ainda sim não era suicídio. Isso para quem acredita, claro.
Morrer pelo seu amor não é prova de amor.
E finalizando a nossa conversa, citarei o maior exemplo de erro que existe em um relacionamento: o tal do “seremos felizes para sempre”. Acho uma petulância sem tamanho alguém afirmar isso, sério mesmo. Algumas vezes não conseguimos nem mesmo cuidar do próprio nariz, quem dirá saber se a felicidade sempre estará presente. Isso é um absurdo total. Nenhuma pedra passa pela vida sem sofrer transformações e lapidações, isso ocorre conosco também. Caímos, erramos, levantamos, sofremos, brindamos, amamos, agimos como seres humanos. O “felizes para sempre” não existe. Não há amor, sem dor. Não há merecimento, sem entrega. Você poderá ter uma vida plena e feliz, mas haverá dias chuvosos, dias tempestuosos e dias de sol. Fato mais que comprovado.

Bem, antes de te deixar partir, meu amigo, quero que absorva uma coisa (caso não consiga absorver as outras): ame-se. Ame-se muito e saiba valorizar o que você tem de melhor em todos os momentos. Você faz o seu futuro, você escolhe quem está ao seu lado e apenas você é responsável pela sua vida. Não deixe para os outros a tarefa de amá-lo, pois você só terá frustrações ao longo da vida. Se você souber sentir amor por você mesmo, isso atrairá outros amores e lhe trará mais felicidades. Isso eu te garanto.


E mesmo sabendo de cor e salteado tudo isso, eu falho, eu deixo de me amar, eu deixo de amar as pessoas que me amam e cometo os atos mais feiosos do mundo.
Não faço por mal, é de momento, sem intenção.


Afinal, faço parte dessa raça tão mesquinha chamada: seres humanos.