Orifício Culposo: O tal do camarada amor

21 de agosto de 2011

O tal do camarada amor




 “Eu amo você.”
“Eu não vivo sem você.”
“Você é a minha vida.”

(Pausa para um café com biscoitos)

“Eu seria capaz de morrer por você.”
“Eu morro por você.”
“Seremos felizes para sempre.”

Tudo muito lindo, tudo muito bom, mas cá entre nós: não há sentimento mais banalizado que o amor, hoje em dia.
As pessoas conhecem-se num dia e no outro já dizem “eu te amo”. Tornam-se confidentes e a pessoa é colocada num pedestal facilmente. Não há mais aquela busca, aquele esforço. Tudo se tornou fácil e rápido. Chato e morno, falso e cansativo.
Bem sabemos que dizer “eu te amo”, é algo muito forte para ser dito aos quatro ventos como se não fosse nada. Sentir é mais bonito do que falar. A-g-i-r.
As pessoas conseguem sim, viver sem os seus amores, só os suicidas que não. Quem se entrega à morte pela perda de alguém, jamais amou a si mesmo. Isso é um delito enorme. Tudo bem que cada um sabe o que faz e deve ter lá os seus motivos, mas não deixa de ser um ato insano e inconsequente. E os meus queridos ouvidos ainda têm que ouvir vez ou outra, que morte por amor é lindo demais e blábláblá. Ok.
Não estou aqui para julgar ninguém, quem me dera, entretanto, não gosto de ver o amor ser tratado assim tão feiamente.
Sou nova, mas sou da época em que olhares eram mais importantes. Afetos, abraços, beijos. Isso se perdeu quando inventaram o tal do SMS.
Calma, eu gosto da tecnologia e sou a favor dela, indiscutivelmente, porém, uma carta deixada de surpresa embaixo da porta é tão valiosa como aquela mensagem que você mandou através do seu celular.
Repito: você vive sem o seu amor, você aprende com a dor.
O seu namorado, marido, ficante, amigo colorido ou flashback não são a sua vida. Entenda isso de uma vez por todas. A sua vida é tudo que a compõe. Os seus livros, as suas séries, as suas idas ao parque, as suas músicas preferidas, a sua família, os seus vizinhos, as suas compras no supermercado, os seus gastos no shopping, as suas danças na balada, o seu suor no trabalho, os seus pensamentos no quarto, os seus banhos, as suas refeições, os encontros com os amigos, as suas rotinas e o seu amor, óbvio. O que quero deixar claro aqui é o seguinte: o seu amor sozinho, nunca será a sua vida. Vocês precisarão de outros complementos para o barco não afundar.

Vamos, sente aqui, venha tomar um café comigo, não gosto da bebida, mas acompanho você. Falemos um pouco desse sentimento. O que é o amor? Há quem diga que amar é sentir borboletas no estômago e palpitações no peito. Só? Não, não, não.
Amor é mais, amor é sublime. É entregar-se de corpo e alma há qualquer ser humano que necessite de compreensão. É renúncia, é abnegação. Isso sim é amor.
Se você diz amar apenas o seu prazer carnal, você não conhece o amor, sinto dizer-lhe. E a mãe que passou talco no seu bumbum? E o pai que por tantas vezes levou-te às festas da cidade? E o irmão que mesmo bravo, cedeu-te o computador e aquele gibi tão amado? E a empregada da casa que sempre fez aquele bolo que você tanto gosta? Cadê esse pessoal na sua história? Acho que você nunca saberá, caso não tenha o esforço suficiente. Mas que baboseira essa, precisar de esforço para reconhecer um amor. Porque mais que amar, reconhecer os amores que estão ao seu lado é mais precioso.
Andei reparando que a palavra “ódio” entrou de vez para o vocabulário das pessoas. “Eu odeio o meu irmão”, “Eu odeio a vizinha de cima”, “Eu odeio aquele cachorro que não pára de latir”. Ódio, ódio, ódio. Quanto ódio!
O cachorro não tem mais o direito de latir. É o fim.
Tenho dó do amor, sinceramente. Foi esquecido feito um cão vira-lata qualquer. Superestimam o ódio como se fosse uma coisa bonita, agradável e prazerosa. Pobres seres humanos.

Voltemos ao ponto principal da nossa conversa, meu caro.

Você tem certeza de que morre por alguém? Pense bastante, deixe os miolos queimarem.
No máximo você morreria pelos seus pais e olhe lá. Não estou subestimando ninguém, não é isso, todavia, morrer por qualquer pessoa que seja não é tão simples quanto parece. Nós somos apegados demais à matéria e quem comete tal ato é fraco. Não vejo força em quem comete suicídio, por mais que pareça.  As pessoas que se entregam para a morte, desistiram de lutar, veja bem.
Conforme aprendemos desde pequenos, o único ser humano que morreu em prol do bem, foi Jesus Cristo e ainda sim não era suicídio. Isso para quem acredita, claro.
Morrer pelo seu amor não é prova de amor.
E finalizando a nossa conversa, citarei o maior exemplo de erro que existe em um relacionamento: o tal do “seremos felizes para sempre”. Acho uma petulância sem tamanho alguém afirmar isso, sério mesmo. Algumas vezes não conseguimos nem mesmo cuidar do próprio nariz, quem dirá saber se a felicidade sempre estará presente. Isso é um absurdo total. Nenhuma pedra passa pela vida sem sofrer transformações e lapidações, isso ocorre conosco também. Caímos, erramos, levantamos, sofremos, brindamos, amamos, agimos como seres humanos. O “felizes para sempre” não existe. Não há amor, sem dor. Não há merecimento, sem entrega. Você poderá ter uma vida plena e feliz, mas haverá dias chuvosos, dias tempestuosos e dias de sol. Fato mais que comprovado.

Bem, antes de te deixar partir, meu amigo, quero que absorva uma coisa (caso não consiga absorver as outras): ame-se. Ame-se muito e saiba valorizar o que você tem de melhor em todos os momentos. Você faz o seu futuro, você escolhe quem está ao seu lado e apenas você é responsável pela sua vida. Não deixe para os outros a tarefa de amá-lo, pois você só terá frustrações ao longo da vida. Se você souber sentir amor por você mesmo, isso atrairá outros amores e lhe trará mais felicidades. Isso eu te garanto.


E mesmo sabendo de cor e salteado tudo isso, eu falho, eu deixo de me amar, eu deixo de amar as pessoas que me amam e cometo os atos mais feiosos do mundo.
Não faço por mal, é de momento, sem intenção.


Afinal, faço parte dessa raça tão mesquinha chamada: seres humanos.

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